segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Handebol 2 - Handebol adaptado nas aulas de Educação Física

Revista Interfaces: ensino,pesquisa e extensão

Ano 1, nº 1, 2009 - 46 -

HANDEBOL ADAPTADO E A POSSIBILIDADE DA INCLUSÃO

DO ADEIRANTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Cosme dos Santos Souza

Elcio Antonio Adami Terra

Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ

Resumo

Criar um ambiente em que alunos “ditos normais” e portadores de necessidades especiais possam participar da mesma

atividade é um desafio para o professor de Educação Física, então procuramos entender atuação do profissional e a

possibilidade de cadeirantes e não cadeirantes participarem da mesma atividade. Utilizamos o handebol para este propósito,

por ser um jogo simples, com regras claras, um dos mais praticados em ambiente escolar (Knijnik, 2004) e também

por existir em sua forma adaptada para cadeira de rodas (Itani et. al. 2004). O objetivo foi verificar a participação do aluno

cadeirante nas aulas de Educação Física e a possibilidade de utilização do handebol adaptado, como ferramenta de inclusão

em ambiente regular de ensino. Este estudo tem caráter etnográfico, para isso estudamos 02 alunos cadeirantes do

ensino fundamental do município de Suzano. Realizamos registros fotográficos e filmagens das aulas para observação do

comportamento e inclusão do cadeirantes e aplicamos questionários para alunos e professores de Educação Física confrontando

com os registros fotográficos e filmagens. A análise dos dados consistiu em examinar, interpretar e descrever

os comportamentos, fatos ou fenômenos ocorridos durante as aulas. Concluímos que não poderíamos aplicar o handebol

adaptado em cadeira de rodas sem um processo de ensino-aprendizagem dos deslocamentos ou fundamentos do jogo,

portanto este estudo precisa ser aprofundado no sentido da aplicabilidade da modalidade para integração do cadeirante

nas aulas de Educação Física. A participação desses alunos em atividades adaptadas contribuiu para a integração e elevação

da auto-estima dos mesmos e o incentivo da família é fundamental para o processo de inserção social. O Estado

deve fiscalizar o cumprimento das leis, dando condições para que escola possa promover a inclusão de alunos deficientes

de forma eficiente, que o professor de Educação Física deve criar condições para o desenvolvimento das possibilidades

e capacidades desse aluno, para que se torne uma pessoa saudável, ativa e independente.

INTRODUÇÃO

Historicamente as pessoas com deficiências, além de negros, mulheres e homossexuais constituíram uma categoria

de excluídos, pois os mesmos não tinham direito à escola ou a voto, não sendo considerados cidadãos na plenitude de

seus direitos e deveres e esta situação perdurou por um bom tempo e a escola, fundamental para a aceitação social do

aluno, mostrou ao longo do tempo ser um dos responsáveis pela estruturação e manutenção desta sociedade reproduzindo

essas atitudes discriminatórias ocorridas fora da mesma. (Souza, 2003).

O aluno com deficiência foi habituado ao convívio em uma escola especial, onde os cuidados e a atenção a este aluno

eram mais evidentes, porque este estabelecimento de ensino foi concebido especificamente para atender este público,

desde a acessibilidade até aos profissionais especializados, onde possivelmente nada disso será encontrado na escola

comum. (Souza, 2003).

Procurar entender melhor essa condição, inclusive da pessoa em cadeira de rodas, torna-se fundamental para a compreensão

desse universo, na tentativa de apresentar alternativas que ajudem a superar tais dificuldades.

Ao acompanharmos o trabalho de um professor de Educação Física em uma escola municipal, percebemos que o

profissional deixou de proporcionar uma atividade que pudesse inserir o único aluno cadeirante na sua aula, que ficou o

tempo todo acompanhando a aula à distância, juntamente de uma agente escolar.

Questionamos como uma criança que não podia fazer aula de Educação Física, devido a suas limitações físicas, poderia

estar naquele espaço e não participar da aula em nenhum momento? Então procuramos entender e estudar porque

o cadeirante não poderia participar de uma aula de Educação Física, juntamente com seus colegas.

Atualmente um dos maiores desafios para o professor de Educação Física é criar um ambiente em que alunos portadores

de necessidades especiais e alunos ausentes dessas deficiências possam participar da mesma atividade. Procuramos

entender atuação do profissional de Educação Física neste processo e verificar a possibilidade de cadeirantes e não

cadeirantes participarem da mesma atividade.

Acredita-se que nem todas as atividades físicas existentes hoje em cadeiras de rodas possam ser aplicadas na escola,

pois algumas delas exigem materiais ou espaços específicos, como o basquetebol em cadeira de rodas, que tem

como exigência uma altura menor do aro em relação ao solo, o que em algumas escolas, especificamente as públicas

pode tornar mais difícil a sua aplicabilidade. Utilizamos o handebol para este propósito, não somente pelo fato de ser um

jogo simples, com regras claras e um dos mais praticados em ambiente escolar (Knijnik, 2004), mas também por existir

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em sua forma adaptada para cadeira de rodas. (Itani et. al. 2004).

Procuramos verificar a efetiva participação do aluno cadeirante nas aulas de Educação Física, que tipo de atividade

é proporcionada a esse aluno, além possibilidade de utilização do handebol adaptado, como ferramenta de inclusão do

cadeirante nas aulas de Educação Física em ambiente regular de ensino.

Metodologia

Esta pesquisa de revisão bibliográfica e pesquisa em campo, teve caráter etnográfico, para o qual estudamos 02 alunos

cadeirantes (1 do sexo masculino e 1 do sexo feminino) do ensino fundamental do município de Suzano, devido ao

fato da enorme dificuldade em encontrar alunos cadeirantes em ambiente regular de ensino. Foram realizados registros

fotográficos e filmagens das aulas para observação do comportamento dos cadeirantes como elemento de inclusão deste

aluno.

O período deste estudo foi de 02 (duas) semanas. Também aplicamos questionários para os alunos e professores

de Educação Física confrontando com os registros fotográficos e filmagens. A análise dos dados das filmagens e dos

registros fotográficos consistiu em examinar e interpretar os fatos ou fenômenos ocorridos durante as aulas e descrição

dos comportamentos.

Resultados e discussão

O aluno “A” do sexo masculino tem 14 anos é tímido, não pratica nenhuma atividade física regular, é totalmente

dependente de outras pessoas. Ele tem distrofia muscular desde os 10 anos, uma doença degenerativa que causa um

enfraquecimento progressivo dos músculos esqueléticos utilizados durante o movimento voluntário (Winnick e Joseph,

2004).

O aluno “B” do sexo feminino tem 13 anos, já praticou dança em cadeira de rodas e procura ser independente de

outras pessoas. Ela nasceu com uma lesão congênita chamada mielomeningocele ou espinha bífida, que afeta a medula

espinhal que fica sem proteção, causada pelo fechamento incompleto da coluna vertebral (Aoki, 2008).

Também foram pesquisados os professores de Educação Física desses alunos. O professor do aluno do sexo masculino

tem 39 anos, está formado desde 1990 e trabalha nesta escola há um ano e o professor da aluna pesquisada tem

31 anos, está formado desde 2006 e trabalha nesta escola há dois meses.

A maior dificuldade encontrada foi o fato que nenhum deles havia praticado qualquer tipo de atividade física utilizando

a cadeira de rodas, por isso, foi necessário primeiro transmitir-lhes confiança, para que se sentissem seguros para participar

da atividade mesmo porque, algumas deficiências impedem a mobilidade dos membros superiores.

Na escola que estuda o aluno “A” tem condições de acessibilidade, como rampas externas e elevadores, diferentemente

de sua colega que estuda em uma unidade de ensino que não atende a legislação vigente e que não possui nem

banheiro adaptado (Brasil, 2000).

Diante desta realidade os alunos relataram que sentem que podem participar efetivamente das aulas de Educação

Física e quando questionados sobre o tipo de atividade que realizam nas aulas foram categóricos ao afirmar que: “Não

faço nada” ou simplesmente “Lição na lousa”.

Winnick e Joseph (2004) afirmam que enquanto os professores de Educação Física não se conscientizarem sobre a

importância que tem ao facilitar a participação dos alunos portadores de deficiência, estes continuarão do lado de fora,

sem fazer nada, olhando os outros participarem e imaginado como seria sentir essa emoção.

Itani et.al. (2004) afirma que praticar atividades físicas proporciona bem-estar físico e psicológico em pessoas portadores

de deficiência, restabelece a auto-estima e diminui a depressão provocada pelo impacto da nova realidade,

facilitando a reintegração à sociedade.

Fizemos o mesmo tipo de pergunta aos professores, estes responderam que as atividades se limitam à sala de aula

ou extraclasse e notamos que nenhum tipo de atividade que insira o aluno cadeirante nas aulas práticas de Educação

Física foi oferecida pelos professores durante o período da pesquisa, mesmo entendendo a importância da inclusão do

aluno portador de necessidades especiais.

Mesmo assim eles acreditam que exista um benefício na proposta de ensino integrado de pessoas portadoras de

necessidades especiais com alunos “ditos normais” e vice versa, assim como seus alunos. Apesar de concordarem com

os benefícios, ambos os professores encontram alguma dificuldade em promover a integração desses alunos, procurando

evitar que os mesmos participassem das aulas práticas devido as suas limitações motoras.

O professor pode selecionar as atividades em função do comprometimento motor, idade ou desenvolvimento intelectual,

isso não deveria ser impedimento para que crianças com qualquer nível de deficiência possam participar da maioria

das atividades propostas. (Cidade e Freitas, 2008).

Costa (2000) apud Itani (2004) afirma que a atividade física em grupo permite que seus integrantes possam adquirir

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uma identidade social ao reforçar sentimento de confiança e grande amizade com outros participantes em uma relação

de companheirismo, responsáveis por comportamentos afetivos positivos.

Diante do questionamento sobre os possíveis benefícios de uma interação por um programa de ensino em classe

regular todos concordaram de alguma forma, Os alunos pesquisados concordam com a interação em classe regular, pois

nunca estudaram em uma escola de educação especial, portanto sempre conviveram com outras crianças.

Carvalho (1999) apud Souza (2003) entende que uma escola para todos, não tenha discriminação ou segregação de

alunos por suas características, o que pressupõe que a educação escolar de crianças com necessidades especiais, pode

ser melhor, quando em escolas do ensino regular.

Segundo ONU/UNESCO (1992), o reconhecimento das diversas necessidades dos alunos, talvez seja o modo mais

eficaz para a construção de solidariedade entre crianças com necessidades especiais e seus colegas, devendo aprender

juntas sempre que possível independente das dificuldades ou diferenças que possam ter.

As possibilidades de relações afetivas positivas se constituem pelo respeito às diferenças que muitas vezes são vistas

como fator de valorização ou descrédito no inicio de uma interação. (Rodrigues et. al., 2004).

As aulas de Educação Física são determinantes no processo de inclusão escolar, já que na maioria das vezes, as

mesmas são ministradas em espaços abertos que permite que todos observem, analisem e critiquem positiva ou negativamente.

Para o cadeirante a escola pode ser a primeira experiência de inserção e integração com outras pessoas e

o professor de Educação Física deve estar preparado na questão do conhecimento das deficiências, para que possa

promover a inclusão do aluno portador de necessidades especiais em suas aulas.

A aula de Educação Física deve favorecer a construção de uma atitude digna e de respeito próprio por parte do

portador de necessidades especiais e a convivência com ele pode possibilitar a construção de atitudes de solidariedade,

respeito, aceitação e sem preconceitos. As adaptações das atividades podem ser importantes para que cadeirante e nãocadeirantes

na construção do processo de interação em classe regular, estimulando as mais diversas possibilidades que

favoreçam a inclusão. (Brasil, 1998).

Block (1994) apud Winnick e Joseph (2004) sugere que antes de decidir o que ensinar a esses alunos, deve-se

analisar o currículo da Educação Física regular, para que possa determinar as modificações necessárias para a inclusão

desses alunos portadores de deficiência em ambientes regulares.

Cesar (1978) apud Jannuzzi (2004) considera que alunos portadores de necessidades especiais e crianças “ditas

normais” possuem mais semelhanças do que diferenças, considerando as potencialidades e possibilidades, por isso a

integração deveria ser progressiva, através do entrosamento entre o sistema regular de ensino e a educação especial,

para que o deficiente passe a aceito na escola e na sociedade.

Considerações Finais

Concluímos que não poderíamos aplicar o handebol sem que houvesse um processo de ensino-aprendizagem para

execução dos deslocamentos e fundamentos do handebol em cadeira de rodas. Percebemos que o período de aplicabilidade

da pesquisa acabou sendo insuficiente para verificar se o handebol adaptado em cadeira de rodas poderia ter

alguma eficiência no processo de integração do aluno cadeirante na aula de Educação Física, portanto este estudo tem

que ser aprofundado neste sentido. Notamos que a participação desses alunos em atividades adaptadas contribuiu para

a integração dos cadeirantes e elevação da auto-estima.

A família tem papel fundamental ao incentivar o cadeirante em idade escolar ao convívio com outras pessoas através

da prática de atividades física, podendo ajudar em muito no processo de inserção social e seus benefícios psicológicos e

quando isso não ocorre é pelo fato de desconhecerem tais atividades ou por proteção exagerada e acabam criando pessoas

deprimidas com suas limitações físicas, já que é comum ver cadeirantes que não participam de nenhuma atividade

física, mesmo nas aulas de Educação Física passando maior parte do tempo em tratamento fisioterápico.

O Estado deve fiscalizar o cumprimento das leis, dando condições para que escola possa promover a inclusão de

alunos deficientes de forma eficiente e o professor de Educação Física deve criar condições para o desenvolvimento das

possibilidades e capacidades desse aluno ao apresentar a ele, colegas e familiares as possibilidades de práticas de atividades

físicas adaptadas, seus benefícios, procurando estratégias adequadas a cada deficiência utilizando de criatividade

e dinamismo, para que esta experiência seja enriquecedora para todos e no futuro possam ter um estilo de vida mais

saudável, para que se torne uma pessoa saudável, ativa e independente

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